No texto anterior, abordamos as
principais estruturas, ligações e funcionamento cerebral envolvidos na
depressão. Neste iremos apresentar, de forma geral, como a depressão ocorre em
bases moleculares no sistema nervoso. No atual período da ciência, temos indicativos
fortes que o principal agente químico (neurotransmissor) envolvido no estado
depressivo é a serotonina. Os neurônios produtores de serotonina (denominados
serotoninérgicos) estão localizados em uma estrutura conhecida como núcleos da
rafe (ver figura 1). Deste local, os neurônios distribuem seus axônios para
diversas partes do cérebro, conduzindo informações na forma elétrica a qual
ativará a base de sinalização química (neurotransmissor serotonina), que é
liberado no espaço entre o neurônio serotoninérgico e o neurônio que irá
receber a mensagem química (ver figura 2).
Nas pessoas sem depressão, essa
dinâmica neuromolecular ocorre de forma equilibrada. Porém, nos deprimidos a quantidade
de serotonina disponível para o neurônio receptor está diminuída, isso provoca
uma redução na passagem de informação em muitos neurônios, fazendo com que algumas
áreas se mantenham com uma ativação elevada, enquanto outras apresentem baixa
ativação.
A diminuição da oferta de
serotonina no espaço entre neurônios, área conhecida como fenda sináptica, se
deve a vários fatores:
-Produção diminuída de
serotonina devido a baixa concentração de substrato e/ou número reduzido de
enzimas responsáveis pela sua produção;
-Elevada concentração ou
atividade das catecolaminas (no caso da serotonina a COMT), do aldeído
desidrogenase e pelas monoaminas oxidases (MAO);
-Baixa capacidade de produção de
vesículas responsáveis pela armazenagem das moléculas de serotonina;
-Alta concentração de receptores
no neurônio pré-sináptico;
-Baixa concentração de
receptores no neurônio pós-sináptico;
-Mau funcionamento nos
receptores pré-sinápticos e/ou nos receptores pós-sinápticos.
Esquerda pessoas sem depressão, Direita pessoas com depressão
Mesmo com uma gama de fatores
envolvidos no estado depressivo de ordem molecular, a alta taxa de remoção e a
baixa taxa de produção da serotonina são apontadas como os fatores mais fortes,
seguidos pelos agentes responsáveis pela sua desintegração e, por último, por
erros no sistema de receptores e receptadores serotoninérgicos.
Mais adiante escreveremos sobre
como agem os fármacos na base molecular e seus efeitos sobre o estado
depressivo.
Por Valdeci Foza e Alessandra Kayser Pinheiro