terça-feira, 2 de abril de 2013

Depressão

Nos últimos anos foi possível entender as causas biológicas que levam o cérebro a desenvolver o quadro depressivo. Hoje sabemos que diversas áreas mudam seu funcionamento devido à exposição prolongada ou a um quadro intenso ao stress. As principais áreas que apresentam modificações em seu funcionamento e que levam ao quadro depressivo são: o córtex pré-frontal, o hipocampo, a amígdala e o córtex cingulado (ver figura 1).
 
 No córtex pré-frontal, três subáreas estão envolvidas:
1) O Ventro-medial - responsável por mediar os aspectos conscientes relacionados com a dor, a ansiedade e as ruminações - apresenta uma redução da massa cinzenta e um aumento de ativação;
2) O Orbito lateral - normalmente envolvido na supressão ou modulação das respostas emocionais - tem sua ativação aumentada;
3) O Dorsolateral - envolvido, em conjunto com o córtex do cíngulo, nas ações cognitivas, na memória de trabalho, no gerenciamento da apatia e na alteração da atenção - apresenta uma massa cinzenta e uma ativação diminuída.
O Hipocampo - responsável pelo gerenciamento das memórias e na modulação do humor - sendo a área mais vulnerável aos mecanismos de neurotoxidade induzida pelo stress, tem sua massa cinzenta diminuída e uma ativação elevada nos primeiros ciclos da depressão e, com o passar do tempo, apresenta uma diminuição na sua ativação.
A Amígdala - responsável por mediar valores emocionais positivos ou negativos aos estímulos e gerenciar as memórias emocionais - apresenta tamanho e ativação aumentadas, porém, principalmente em mulheres, tende a apresentar uma ativação diminuída se o quadro se torna crônico.
O Córtex Cingulado - responsável pelo monitoramento dos comportamentos através de base emocional, regulação da motivação e da resposta simpática - apresenta uma ativação excessiva no início e com o tempo torna-se hipoativo.
 
Em nossos trabalhos com treinamento eletrofisiológico através da técnica de neurofeedback, buscamos reestabelecer a ativação ideal das áreas envolvidas na depressão e, durante as avaliações realizadas, sempre observarmos um elevado grau de sincronia entre as diversas áreas cerebrais, porém, a literatura não apresentava dados referentes a esse fenômeno em pessoas depressivas. Mas, para nossa surpresa, no início de 2012, nos deparamos com um artigo que falava exatamente sobre o alto nível de sincronia entre as áreas cerebrais em pessoas depressivas. Desta forma, começamos a trabalhar em conjunto: o restabelecimento da ativação e da sincronia nas áreas responsáveis pelo quadro depressivo. Os resultados foram excelentes. Abaixo se encontra um resumo geral do artigo.
Em seu estudo publicado na revista PLoS o psiquiatra e pesquisador Andrew Leuchter do Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior (UCLA), realizado com 121 pacientes deprimidos e 121 pessoas sem nenhum tipo de problemas mentais, utilizando um método inovador na análise dos dados coletados por EEG, denominado de “análise ponderada do cérebro” observou que os 121 sujeitos depressivos apresentavam um alto nível de sincronia das faixas de frequências de ondas elétricas cerebrais, entre as diversas áreas do cérebro, demonstrando que depressivos apresentam cérebros hiperconectados (ver figura 2 - MDD = depressivos). 
Já sabíamos que regiões do cérebro rigidamente sincronizadas obrigam o cérebro ser inflexível. Assim, um cérebro que não pode desempenhar suas funções de forma minuciosas e realizar seu processamento de forma independente e específica, fica preso em um processamento geral, semelhante a um computador travado, que mesmo processando não consegue realizar suas tarefas básicas. Desta forma, parece que o cérebro do depressivo entra em um processo disfuncional de ordem de ativação e de sincronia, fazendo que todo seu processamento busque o mesmo objetivo, ficando preso em um circulo vicioso, que geralmente tem como foco informações negativas. Este processo acaba provocando um desgaste geral no sistema nervoso, levando a pessoa não mais buscar a socialização e se engajar em atividades, se mantendo sempre em um estado de cansaço e desmotivação.
Assim, aqui na Abnara, buscamos intervir no reequilíbrio neurofuncional, agindo ao mesmo tempo sobre a estabilidade das áreas cerebrais e no equilíbrio da sincronia entre as áreas. Desta forma permitimos que o cérebro retome sua capacidade de flexibilidade, maleabilidade e especificidade. O principal objetivo de nossas intervenções neurofisiológicas, assim como outras intervenções apresentadas no mercado (terapia, farmacológica, etc.), é permitir que o sistema nervoso da pessoa depremida consiga, novamente, adquirir sua capacidade de funcionamento saudável (ver figura 3).

 
Em breve escreveremos como essas disfunções ocorrem em ordem molecular no cérebro da pessoa deprimida.
 
Por Valdeci Foza e Alessandra Kayser Pinheiro

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