O
Conservadorismo no Processo de Aprendizagem
Há
muitos séculos a sociedade humana busca entender o seu próprio processo de
aprendizagem. Nesta caminhada, muitas teorias foram desenvolvidas, muitas
equivocadas pela razão, outras pela falta de conhecimento e tecnologia da
época. Mas esses equívocos são perdoados, pois seus desenvolvedores fizeram o
melhor de uma geração de pensadores, o que não se perdoa é a utilização dessas ideias
ainda hoje por profissionais contemporâneos. Grandes pensadores do século
passado, como Piaget, Vygotysk, Skinner, Maslow, Rogers, Merani, Coll, entre
outros, promoveram um crescimento no entendimento do processo de aprendizagem.
Porém, novos estudos na área de neurociência e cognição humana tem demonstrado
que devemos ter cautela com alguns conhecimentos deixados por esses autores. No
ano passado Luca Bonatti e seus colegas (Universidade Pompeu Fabra, Espanha)
publicaram um estudo na revista Science, onde apresentaram que bebês com menos
de 1 ano de idade são capazes de realizar previsões muito avançadas em
situações novas, demonstrando que a capacidade de manipulação do futuro já esta
presente muito cedo nas crianças, diferente do que se pensava, que esta
habilidade mental só se formaria em um estágio bem mais avançado da vida.
Outro
artigo da Science apresenta o trabalho de Kovács e colegas, no qual verificaram
que aos 7 meses, bebês já são capazes em reconhecer as crenças de outros,
demonstrando que a base das interações sociais tem seu início muito cedo na
vida, diferente do que se pensa ainda hoje. Outra pesquisadora, Mercura,
demonstrou que bebês de 3 meses de idade já são capazes de identificar com
precisão a base emocional da fala humana, uma habilidade, mencionada no
conhecimento clássico, que era atingida em uma idade mais avançada nas crianças.
Os
estudos de Wynn, pesquisadora da Universidade de Yale, tem demonstrado diversas
capacidades neurocognitivas desenvolvidas muito cedo nas crianças. Seus estudos
com experimentos de alto grau de controle apresentaram de forma sólida, que
diversos padrões cognitivos e comportamentais relatados anteriormente por pesquisadores
que antecederam a sua geração, estão equivocados. Não por erro dos
profissionais, mas pelo limite dos métodos e tecnologia utilizados na época.
Em
2005 a Universidade de Cambridge criou o Centro de Neurociência em Educação,
dirigido pela neurocientista Usha Goswami, com o objetivo de ampliar o
entendimento do sistema nervoso no processo de aprendizagem. Entre diversos
temas, as dificuldades de aprendizagem relacionadas à fala, escrita, leitura e
matemática são os mais focados. Diversos conhecimentos já foram produzidos pela
equipe de Goswami, e novas formas de entendimento e intervenções para os portadores
de distúrbios da aprendizagem já foram comprovados, agora basta a aplicação
deste conhecimento na sociedade.
Nesse
início de século, temos mais conhecimento de ponta sobre o desenvolvimento do
sistema nervoso, processamento cognitivo e aprendizagem humana, que todos os
outros juntos. Porém, nossa sociedade ainda vive das crenças, teorias e metodologias
defasadas, e com isso, nosso sistema educacional se mantém em um patamar
semelhante há 100 anos. Cabe repensar as ações tomadas, o discurso vendido nas
formações dos atuais profissionais, ser flexível ao novo e permitir a
atualização da visão defasada. Afinal de contas, ninguém anda hoje em dia com
um pombo-correio no bolso, mas todos tem um celular. Então, por que ainda
carregamos a velha forma de educação, quando temos uma atualizada e com maior
eficácia nos esperando? Até o próximo paper...
Por
Valdeci Foza
Alessandra Kayser Pinheiro