terça-feira, 19 de março de 2013

Bases Biológicas da Dislexia

A principal causa da dislexia é de origem biológica. Um erro genético altera a base funcional do sistema nervoso do disléxico e faz com que seu cérebro trabalhe de forma equivocada no processamento da informação, em determinada subárea e na interligação entre as algumas das subáreas cerebrais. 
Hoje, através dos estudos realizados com eletroencefalograma, ressonância magnética e tomografia, temos conhecimento da existência dessas subáreas cerebrais que estão diretamente envolvidas com a dislexia. Uma delas está localizada em uma área mais profunda e primitiva do cérebro, área essa que serve de elo entre as informações externas e internas das diversas áreas, conhecida por tálamo. O tálamo do disléxico apresenta uma alteração na camada de neurônios magnocelulares, o que provoca um déficit de processamento rápido das informações que chegam a ele, sejam elas de origem externa ou interna.
As outras áreas envolvidas estão localizadas no córtex cerebral, a estrutura evolutivamente mais moderna do nosso cérebro. Um dos locais está situado na região posterior esquerda, conhecida como área occipito-temporal, a qual é responsável por realizar a análise da forma da palavra, isto é, reconhecer que aqueles símbolos unidos representam uma determinada forma geral, o qual terá posteriormente um significado. Esta análise é realizada a partir das informações que chegam do tálamo. Outra subárea está localizada em uma posição mais superior e medial em relação da primeira, conhecida como área parieto-temporal. Essa subárea recebe a informação processada na anterior, quanto à forma da palavra, e realiza a análise conceitual da mesma, dando significado ao símbolo. A próxima subárea está em uma região mais frontal e inferiormente do cérebro, denominada área do giro frontal inferior. Ela recebe as informações das outras duas áreas anteriores e realiza o processamento que  permite a articulação da palavra. Em outras palavras, vai recrutar outras áreas cerebrais, principalmente subáreas frontais do hemisfério direito, parietais direito e esquerdo e os lobos temporais, para realizar a localização da palavra no contexto da fala, frase, entonação, prosódia, entre outros. Assim, em conjunto, essas áreas produzem o léxico, a sintaxe e a semântica da linguagem durante a leitura.

Porém, no disléxico essas áreas estão com o funcionamento alterado ou diminuído. Sabe-se que as duas áreas corticais posteriores do hemisfério esquerdo, apresentam uma baixa ativação durante a ação no léxico. E como forma de compensar, o sistema nervoso acaba aumentando a ativação da área do giro frontal inferior esquerdo, e recrutando a mesma área no hemisfério direito. Este acionamento bilateral do giro frontal inferior provoca uma estimativa da palavra, isso é, o cérebro do disléxico acaba tentando estimar ou adivinhar qual a palavra que leu, ao invés de realizar o reconhecimento e o conceito da palavra (Ver figura 1). Além disso, estudos recentes têm apontado que os disléxicos, além dos fatores acima mencionados, não conseguem realizar a troca de ativação hemisférica necessária para o amadurecimento da leitura e escrita. No início da aprendizagem da leitura e da escrita, assim como na aprendizagem da matemática, as áreas parietais do hemisfério direito apresentam um acionamento maior, mas aos poucos a ativação vai diminuindo no lado direito e o lado esquerdo passa a dominar. Essa mudança hemisférica parece ser necessária para que a leitura, escrita e cálculos sejam realizados de forma fluente. E isso não acontece no disléxico (Ver figura 2).
Além dos problemas diretos da dislexia, o fato do disléxico se submeter constantemente em situações de fracasso e de constrangimento, faz com que mudanças também ocorram nas áreas responsáveis pelo gerenciamento das emoções. Depois de instalada a mudança funcional nas áreas emocionais, o tempo necessário para corrigir o déficit do disléxico, aumenta consideravelmente.
Aqui na Abnara temos abordado o problema da dislexia com intervenções diretas na base neurofisiológica, onde buscamos realizar a reeducação funcional das áreas envolvidas, desativando as regiões do giro frontal inferior bilateral, principalmente do hemisfério direito, ativando as regiões occipito-temporal e parieto-temporal; reestabelecendo a coerência entre as três áreas corticais e, na maioria das vezes, buscamos estabilizar a ativação das áreas responsáveis pela emoção. Em conjunto com as intervenções neurofisiológicas, realizamos intervenções indiretas através abordagem neuropedagógica e psicopedagógica, desenvolvendo contextos, materiais e modelos cognitivos próprios para cada cérebro disléxico, buscando possibilitar informações entendíveis e modificadoras das áreas em questão, permitindo, assim, que o sistema nervoso realize de forma ampla a plasticidade neural necessária para a modificação do estado cerebral do disléxico.
Por Valdeci Foza e Alessandra Kayser Pinheiro


2 comentários:

  1. Muito interessante a matéria. Tenho um sobrinho com diagnóstico de dislexia e minha família não fazia ideia do que era dislexia.
    Obrigada

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    1. Obrigado, infelizmente a maioria das pessoas ainda não sabem que a dislexia é um problema do sistema nervoso e acabam taxando os que possuem de preguiçosos.

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