segunda-feira, 25 de março de 2013

Discalculia

Ao relembrarmos histórias do tempo de escola facilmente vem à mente fleches de diversas situações onde os alunos não gostavam de matemática, expressões tais como: “acho a matéria difícil”, “eu não consigo entender”, “isso é impossível aprender” e enfim, todas as formas de angústia e desgosto pela incapacidade de realizar a tarefa solicitada como os demais alunos.
Essas dificuldades nos levantam algumas questões: Mas por que isso ocorre? Será a falta de preparo dos professores para a realização de aulas encantadoras? Seria a distância entre a atividade realizada e seu uso real na vida do aprendiz? Ou ainda, o desinteresse dos alunos por estudar a disciplina que exige raciocínio lógico-matemático? Para muitos, esses fatores podem estar combinados em maior ou menor grau, formando um quadro de dificuldade de aprendizagem. Mas em alguns casos específicos, essas dificuldades na aquisição das habilidades e competências matemáticas podem estar relacionadas a um quadro denominado de DISCALCULIA.
A DISCALCULIA é um distúrbio neurológico, semelhante à dislexia (ver artigo anterior), que afeta o desenvolvimento das habilidades numéricas, podendo ser entendido como a incapacidade de processamento e compreensão conceitual de quantidades, grandezas e de raciocínio lógico necessário à resolução de problemas. Possui origem associada a desordens genéticas ou congênitas, nas partes específicas cerebrais que são substrato anatômico fisiológico de maturação das habilidades matemáticas.
Desde o nascimento possuímos habilidades para lidar com as demandas matemática do nosso meio, como a compreensão implícita de numerosidade, ordinalidade, grandezas, contagem e aritmética simples, que formam um sistema matemático não simbólico. Por exemplo, bebês com poucos meses já podem identificar numerosidades entre 1, 2 ou 3 elementos e apresentam compreensão de grandeza e quantidade. Com o passar dos meses a criança inicia a aprendizagem da simbologia e é nessa fase, durante os anos pré-escolares, que a capacidade de processamento matemático se desenvolverá fortemente em conjunto com a estruturação da linguagem. Na sequência, as crianças aprendem a representar números com processamento simbólico, o que permitirá a manipulação e comparação mental de quantidades precisas. Embora tenhamos essa capacidade inata, muitos não se dão bem com a tal matemática formal.
Até pouco tempo atrás, não tínhamos conhecimento das bases neurobiológicas de como esses processamentos ocorriam, e muito menos das disfunções que ocorriam no sistema nervoso de quem possuía discalculia. E devido esse desconhecimento, quanto a dificuldade de aprendizagem e de entendimento da matemática, as pessoas com discalculia eram taxadas como sujeitos com: falta de interesse, problemas de traumas familiares e até mesmo falta de inteligência, ou com professores incompetentes e negligenciadores. Com o avanço da tecnologia e do conhecimento, esses mitos foram desqualificados e hoje temos uma gama de informações sólidas que alicerçam como o cérebro gera a discalculia.
Através da utilização de imageamento cerebral, eletroencefalografia, e outros métodos foram possíveis investigar e encontrar as bases neurobiológicas do processamento numérico. O primeiro e grande salto foi à descoberta que o lobo parietal é a área cerebral responsável para a representação de domínio específico de quantidades, das funções verbais, espaciais e do foco de atenção para a resolução de operações de quantidades, grandezas, proporções e números. E através de inúmeros estudos realizados, utilizando essas tecnologias durante a realização de tarefas numéricas, foi possível identificar que o sulco intraparietal (IPS) bilateral representa o papel chave da especificidade numérica no cérebro (ver figura). Em pessoas que não possuem discalculia, esta área é ativada sempre que os números são manipulados, independentemente da forma de notação. Além disso, a área IPS ativa e seleciona as ondas eletrofisiológicas de forma proporcional a exigência cognitiva numérica da tarefa. Posteriormente, foi identificado que pessoas com discalculia apresentam baixa ativação e erro de seleção das frequências das ondas eletrofisiológicas dessa área, e de integração com outras áreas necessárias para a realização plena do processo cognitivo lógico-matemático.
Outra área do cérebro envolvida na resolução de problemas matemáticos é o giro angular esquerdo (ver figura), o qual desempenha o papel de apoiar a recuperação da memória de longo prazo para o reconhecimento de fatos matemáticos. Esse processamento cognitivo, o giro angular esquerdo realiza em conjunto com o hipocampo. Por exemplo, na resolução de problemas de multiplicação é necessário recuperar o resultado através da memória, ou seja, relembrar as antigas “tabuadas” memorizadas na infância, e quem faz essa tarefa é o giro angular esquerdo.
 
Outra área recrutada é o córtex frontal medial bilateral, o qual se responsabiliza por realizar a integração das informações do processamento matemático e da conceituação numérica (realizado pelo IPS e pelo giro angular esquerdo), pela manutenção do foco de atenção, da memória de trabalho e através dessas operações realiza o processamento da articulação do desenvolvimento matemático. Mais recentemente, desenvolveu-se o conceito de “linha numérica mental”, a qual seria a forma como nosso cérebro integra a resolução de problemas matemáticos, com a atenção visual e a memória visuo-espacial de curto prazo e informações integradas de outras áreas para chegar a solução da tarefa, sendo a região IPS a grande responsável por esse gerenciamento.
Porém, em pessoas com discalculia, as áreas parietais responsáveis pela realização da base de quantidade, grandeza, operações simbólico e não-simbólico numérico e conceito matemático, apresentam um erro de ativação das ondas cerebrais, desta forma demoram ou passam informações equivocadas para as áreas frontais, que buscando suprir esse déficit, acaba desenvolvendo um funcionamento alterado e gerando uma fadiga por hiperativação da sua base eletrofisiológica, o que acaba frustrando a pessoa, o que, posteriormente, leva ao desgosto pela matemática.
Aqui na Abnara, semelhante com os problemas de dislexia, buscamos, nas áreas responsáveis pelo desenvolvimento da discalculia, reequilibrar à ativação das frequências das ondas eletrofisiológicas e sincronizar essas áreas, através do treinamento eletrofisiológico (neurofeedback) e de intervenções neuropedagócica com o objetivo de desenvolver a plasticidade de acesso à rede neural eficiente do processamento matemático pela pessoa que apresenta o quadro de discalculia.
Por Alessandra Kayser Pinheiro e Valdeci Foza

4 comentários:

  1. Pi é um filme de ficção científica dos Estados Unidos de 1998, realizado por Darren Aronofsky

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  2. Pode me passar a Referencia da imagem usada no texto?É de algum artigo?

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  3. Qual a fonte desses achados? Poderia sinalizar ou enviar os artigos? Obrigada!

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  4. Qual a fonte desses achados? Poderia sinalizar ou enviar os artigos? Obrigada!

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