O Cérebro (03)
Hoje voltamos a nossa jornada sobre o cérebro. No último paper sobre o
assunto, tínhamos escrito que a medula espinal foi um grande avanço no que se
trata em organização e processamento neural. Em paralelo à evolução da medula
espinal e até antes dela, outra forma de organização nervosa apareceu, sendo
formada por pequenos grupos de neurônios, os quais aos poucos foram se
aperfeiçoando em determinada função. Estes grupos de neurônios hoje são
conhecidos como gânglios, já estavam presentes em diversos animais primitivos,
e os que ainda não foram extintos, possuem os gânglios como centro nervoso superior.
Em nós seres humanos, os principais gânglios nervosos e também os mais
conhecidos são os gânglios simpáticos e os gânglios parassimpáticos.
Na verdade
a medula espinal também é formada por diversos gânglios, porém distribuídos de
forma diferente. É por isso que dissemos
que a medula espinal e a base nervosa ganglionar tiveram uma evolução paralela
e provavelmente de um ancestral orgânico em comum, onde cada um se especializou
em determinada função e estrutura, sendo que em determinados seres apenas um
destes sistemas se manteve, já nos seres superiores, como nós humanos, ambos
foram preservados.
Como descrito anteriormente, e semelhante à medula espinal, os
gânglios são capazes de realizar cognição em um nível um pouco mais complexo do
que a comunicação neural simples. Porém, na maioria dos seres mais evoluídos,
eles apenas fazem parte da base simples da cognição, sendo diretamente
monitorados pelo tronco encefálico. Geralmente existe uma fina comunicação e
autoajuste entre a base ganglionar e o tronco encefálico, fazendo que o
comportamento gerado seja um conjunto de ambos. Porém, algumas doenças ou
síndromes afetam o bom funcionamento do sistema ganglionar simpático e
parassimpático, provocando diversos problemas de ordem orgânica e mental.
Os gânglios simpáticos e parassimpáticos estão envolvidos com a
regulação de diversos órgãos e glândulas de nosso corpo, e são conhecidos como
sistema nervoso autônomo. Este sistema possui três locais de processamento, os
gânglios periféricos, o tronco encefálico e o hipotálamo. De forma bem
resumida, o sistema autônomo é o grande responsável pela autorregulação
orgânica e pela manutenção de um meio favorável à vida, sendo que uma
desregulação deste sistema provoca um desequilíbrio do estado ideal de preservação
dos demais sistemas orgânicos, podendo levar a morte.
Devido a sua importância na preservação da base fisiológica da vida, o
estado de equilíbrio entre o sistema autônomo simpático e parassimpático se faz
necessário, para que seja possível realizar processamentos cognitivos de nível
superior. Nos arredores da década de 50 do século XX, um psicólogo
chamado Abraham Harold Maslow, buscou o conhecimento da neurofisiologia para
embasar seus estudos sobre Teoria a respeito da Hierarquia das Necessidades
Humanas, e em 1954 publicou o livro "Motivation and Personality", o qual trás sua
famosa pirâmide de necessidades humanas (muito conhecida na área de gestão),
onde sabiamente colocou como base de sua pirâmide as necessidades fisiológicas,
as quais são constantemente monitoradas pelo sistema autônomo. Sem a
estabilidade deste sistema, não é possível conseguirmos realizar com grande
perfeição as ações dos outros níveis de cognição.
Mas
o que tudo isso tem a haver com o nosso dia-a-dia? A resposta é simples: não se
tem bom aprendizado com fome, frio, medo, raiva... como também não se consegue ótimas soluções
no trabalho com baixo nível de glicose no sangue, altos níveis de
triglicerídeos circulando, com ruído excessivo, com excesso de
tarefas.......todos esses fatores que relatamos são ativadores do sistema
simpático, fazendo com com que as áreas superiores do nosso cérebro se
preocupem em achar uma solução para a vida, e não com a pergunta básica do
momento: “quantos são 2 + 2?”. Para o sistema autônomo essa questão não está
nas prioridades da vida.
Em
outro paper veremos como são organizadas as estruturas mais evoluídas de nosso
sistema nervoso, até o próximo....
Por
Valdeci Foza
Alessandra Kayser Pinheiro
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